Poxa! Por que você não presta atenção e pensa?

Poxa! Por que você não presta atenção e pensa?

Recebi pela internet a mensagem: Interpretação de texto nos dias de hoje – Você posta nas redes sociais o seguinte anúncio: “Olá! Meu nome é André e eu vou vender bolo de cenoura hoje, das 14h às 17h. Cada fatia custa R$5,00. Interessados podem entrar em contato pelo 99999-9999.” Daí em seguida as pessoas perguntam: “O bolo é de quê?”, “Quanto custa?”, “Posso buscar às 18h?”, “Como faço para comprar?”, “Com quem eu falo?”

Por que muita gente faz estes tipos de perguntas quando o anúncio é claro? Existem diferentes possibilidades para explicar isto. Primeiro, um monte de gente (mais jovens do que idosos) tem se acostumado a ter tudo nas mãos já mastigado sem precisar pensar. O cérebro destes jovens pode ficar atrofiado ou limitado porque o usam na maior parte das vezes para entrar em contato com coisas prontas, geralmente da internet, sem precisarem pensar, raciocinar, refletir. Uma lástima! Uma perda importante para a sociedade. Se tornam pessoas superficiais. Vivem mais no mundo das emoções. Não colocam os pés no chão. Alguém tem que cuidar deles. Que peso, não é?

Em segundo lugar, algumas pessoas agem desta maneira com perguntas irrefletidas porque se acostumaram com serem servidas por outros de maneira que elas mesmas se sentem no direito de não necessitar pensar. Os outros pensam por elas e elas esperam respostas dos outros para perguntas idiotas que elas fazem. É como se elas dissessem: “Como você ousa não me responder como, quando e da maneira como eu quero?” São pessoas acomodadas, folgadas, espaçosas, abusadas. Elas acreditam (ou desejam) que os outros ao redor estejam ali para elas o tempo todo, e creem que os outros são office-boys delas. Podem ser pessoas que não têm nada para fazer e perturbam os outros que estão ocupados, fazendo perguntas desnecessárias. Irritante, não é?

Em terceiro lugar, há pessoas que são (ou estão) tão ansiosas que quando leem um anúncio como este, com informações claras e objetivas, não prestam a atenção no que leem. A ansiedade excessiva pode diminuir o campo da percepção em algumas pessoas, pode atrapalhar a concentração. Isto significa que quando elas leem algo assim, os olhos estão sobre as letras e palavras, mas a consciência pode estar em outro lugar. Por isso fazem perguntas cujas respostas estão no texto, mas elas não veem, embora tenham lido o anúncio. Ansiedade demais, não é?

Em quarto lugar, muitas pessoas são carentes afetivamente e anseiam por atenção, apoio, colo, e agem como se fossem ignorantes, como se fossem crianças sem noção das coisas através de perguntas como “O bolo é de que?”, quando o texto diz que é de cenoura, e “Quanto custa?”, quando o valor está anunciado na propaganda. Elas podem buscar atenção para si mesmas fazendo perguntas infantis como estas, quando o texto já explicou tudo. Que carência chata, não é?

Em quinto lugar, quando a propaganda anuncia que a venda será feita entre 14h e 17h e a pessoa pergunta se pode buscar às 18h, ela pode dizer isto porque pode se tratar de alguém controlador, manipulador, que quer as coisas do seu jeito, no seu tempo, da sua maneira. Pode ter dificuldade de aceitar a realidade e querer que a realidade se adapte aos seus caprichos e desejos. Pode haver arrogância também, algo do tipo “sabe com quem está falando?”, e se achar o máximo a ponto de que as pessoas tenham que satisfazer o que elas querem.

Uma pessoa madura, consciente, não carente, não manipuladora, não autoritária, não acomodada, sem ansiedade exagerada, diante de um anúncio assim já sabe o que fazer, se ela quer comprar bolo de cenoura. Claro, o assunto pode ser bolo de cenoura ou amizade, atenção, carinho, valorização, perdão, ajuda, etc. Alguém maduro não vai perturbar ninguém com perguntas irrefletidas as quais podem ter as motivações imaturas citadas acima. Esta é uma pessoa mais eficaz na vida. Mais livre, mais solta, mais leve, não é um peso para ninguém em volta. É possível aprender a ser uma pessoa assim. Primeiro de tudo é preciso admitir o que se é de verdade. Em seguida é necessário querer a verdade. Depois deve-se buscá-la, pensando, refletindo, analisando, ponderando. A verdade vai acabando com as nossas mentiras. Mas você precisa querer a verdade. É assim que podemos melhorar como pessoa. E isto é possível. Mas a pergunta mais importante neste contexto é: quero melhorar como pessoa ou continuar a empurrar a vida com a barriga ficando do jeito que sou e perturbando as pessoas ocupadas com perguntas irrefletidas?

 

 

 

 

 

 

 

Por Cesar Vasconcellos de Souza – médico psiquiatra

Daniela Domingos

Daniela Domingos

Jornalista, professora de Filosofia, especialista em Assessoria de Comunicação e Marketing, Gestão Pública e Mídias Digitais, e mestranda em Ciências de Dados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *