Feliz Ano Novo, Aracaju. (por Antonio Samarone)

Feliz Ano Novo, Aracaju. (por Antonio Samarone)

 

“O céu do Aracaju tem todos os tons de azuis, claros e escuros, meigos e violentos.” – Joel Silveira.

No dizer de Mário Cabral, Aracaju nasceu feia, pobre e impaludada. Um paraíso das febres, um baixio de mangues, lagoas, pântanos e alagados.

Aracaju engatinhou sobre um charco imenso, onde a saparia coaxava o seu canto. Aracaju é obra dos sergipanos, a disputa entre as areias das dunas e a lama dos manguezais.

Aracaju é um aterro embelezado.

Aracaju nasceu em 21 de fevereiro de 1855, na reunião da Assembleia, no Engenho Unha do Gato. Antes era o Arraial do Riacho de Santo Antonio do Aracaju.

Aracaju era vaidosa por ter sido planejada pelo engenheiro Pirro. Um tabuleiro esquartejado, com ruas de 12 metros de largura, 3 de calçada e 9 de pista, muito antes dos automóveis.

“Aracaju não é terra, nem também povoação, Só tem casinhas de palhas, forradinhas de melão.” A primeira casa de luxo, imponente, foi o palacete de Adolfo Rollemberg, em 1914.

Até a década de 1960, Aracaju permaneceu bucólica, onde o edifício mais alto era a Catedral. O nosso primeiro arranha céu é desse período.

O transporte era feito por uma linha de bondes, puxados a burros. A linha começava na Cadeia Velha e ia até o Trapiche Aurora.

Com a chegada da Petrobras, Aracaju se transformou num canteiro de obras, para o bem e para o mal. As construtoras tomaram conta da Prefeitura, e danaram-se a construir. Estreitaram ruas, avançaram as calçadas: era o vale tudo do progresso.

Os mangues foram aterrados, as várzeas ocupadas e as árvores decepadas. Aracaju deu um salto em pouco tempo. Era o progresso do cimento e do cal. A brisa fresca do Rio Sergipe foi sufocada. A cidade se transformou no inferno para os pedestres.

A Petrobras foi embora.

Atualmente, a especulação imobiliária é dona de 2/3 do restante do solo urbano do Aracaju. São latifúndios urbanos, engordando, para o bem do capital e do lucro.

A região do Mosqueiro, em conflito com São Cristóvão até pouco tempo, está sendo ocupada na lógica do mercado. O lucro derrotando a qualidade de vida.

A chamada “zona de expansão urbana do Aracaju” é propriedade do capital. Tem donos. O último refúgio das restingas, dunas e lagoas, refúgio das capivaras e dos patos silvestres, a última alternativa para Aracaju contemplar a qualidade de vida.

Não sou contra o crescimento, apenas não precisa essa política de terra arrasada.

Essas fotos, é do que resta das nossas lagoas na zona de expansão.

Há tempos, sugeri que a área do Tecarmo, desocupada pela Petrobras, fosse transformada numa reserva natural de restinga. Depois silenciei, com medo de que o Tecarmo fosse vendido ao setor privado.

Durante a Era Bolsonaro me calei, para não chamar a atenção.

Começa amanhã um novo governo, com outra orientação. Está na hora da Prefeitura do Aracaju tomar a iniciativa de incorporar o Tecarmo, como Parque Municipal. O Parque da Sementeira só existe, pela iniciativa do Prefeito Heráclito Rollemberg.

Que em 2023, Aracaju busque um caminho sustentável.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

Da 93Notícias

Daniela Domingos

Daniela Domingos

Jornalista, professora de Filosofia, especialista em Assessoria de Comunicação e Marketing, Gestão Pública e Mídias Digitais, e mestranda em Ciências de Dados

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