IA muda o jeito como estudantes escrevem redações no ensino médio

IA muda o jeito como estudantes escrevem redações no ensino médio

 

Professores relatam aumento no uso de inteligência artificial e alertam para impacto na criatividade e no aprendizado

O uso da inteligência artificial (IA) chegou com força às salas de aula do ensino médio. Professores de diversas regiões do Brasil têm percebido um padrão cada vez mais comum nas redações entregues por seus alunos: vocabulário rebuscado, frases muito bem estruturadas e argumentos que fogem do estilo habitual dos estudantes. A principal suspeita? O uso de ferramentas como ChatGPT, Gemini e outras IAs generativas.

Segundo relatos de docentes de português e redação, desde o início de 2024 há um aumento expressivo de textos escolares com sinais claros de terem sido gerados ou editados com auxílio de IA. O fenômeno tem causado debates sobre os limites do uso da tecnologia na educação, os impactos sobre o desenvolvimento da escrita e a originalidade dos trabalhos escolares.

Tecnologia a favor ou contra o aprendizado?

Educadores dividem opiniões sobre o uso da IA nas escolas. De um lado, há quem veja a ferramenta como uma aliada na construção de ideias e no auxílio à escrita. De outro, professores alertam para uma dependência excessiva da tecnologia, o que pode comprometer a formação crítica dos estudantes.

“Percebo que muitos alunos deixaram de tentar escrever por conta própria. Eles colocam um tema no ChatGPT e entregam o texto pronto. Isso é preocupante porque a prática da escrita é fundamental para o desenvolvimento do pensamento”, afirma a professora Sandra Martins, da rede estadual de São Paulo.

Estudo mapeia o impacto da IA na escrita estudantil

Um estudo recente conduzido por uma equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) buscou mapear o impacto do uso de IA em redações de estudantes do ensino médio. Foram analisadas mais de 5 mil redações do Enem simuladas entre 2022 e 2024.

Os pesquisadores usaram modelos de linguagem para identificar traços linguísticos típicos de textos gerados por IA. Os resultados mostraram que, em 2024, aproximadamente 18% dos textos analisados apresentavam forte influência de modelos generativos.

As redações influenciadas pela IA mostraram maior uso de palavras estilizadas como “ressignificar”, “corroborar” e “contemporaneidade”, além de construções sintáticas complexas. Outro dado relevante foi a baixa ocorrência de erros gramaticais, o que chamou a atenção dos avaliadores.

 

Educação precisa se adaptar aos novos tempos
Diante desse cenário, escolas começam a repensar suas práticas pedagógicas. Algumas instituições têm promovido debates sobre o uso ético da inteligência artificial e proposto novas formas de avaliação que valorizem mais o processo do que o produto final.

“Estamos incentivando os alunos a fazerem esboços manuais antes de passarem o texto para o computador. Também pedimos reflexões sobre o próprio processo de escrita. O objetivo é que a IA seja uma ferramenta de apoio, e não uma muleta”, explica o coordenador pedagógico Rafael Nunes.

Especialistas também destacam a importância de preparar os estudantes para lidar com a tecnologia de forma crítica e responsável, em vez de simplesmente proibi-la. Afinal, o uso de IA na vida acadêmica e profissional tende a se tornar cada vez mais comum.

 

Da 93Notícias

Daniela Domingos

Daniela Domingos

Jornalista, professora de Filosofia, especialista em Assessoria de Comunicação e Marketing, Gestão Pública e Mídias Digitais, e mestranda em Ciências de Dados

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