Número de usuários do transporte coletivo na Grande Aracaju cai 30%
O dia começa mais cedo para quem depende do transporte público em Aracaju e, antes mesmo do sol nascer, a equipe do Portal visitou um dos terminais de integração mais importantes da cidade: o Manoel Aguiar Menezes, conhecido como terminal do mercado, localizado no bairro Industrial.
No final da madrugada, a maioria dos passageiros são trabalhadores e trabalhadoras que precisam estar na primeira hora da manhã no serviço. O terminal do mercado é uma importante ligação para quem sai da zona norte, vai para o centro da cidade e também para quem vem da Barra dos Coqueiros e Nossa Senhora do Socorro, região metropolitana.
Em 2020, foram iniciadas as obras para substituir o antigo terminal, que funcionava praticamente no mesmo lugar. No dia 17 de março de 2022, a obra foi entregue. Um investimento de R$ 11 milhões para atender uma demanda de passageiros que diminuiu nos últimos anos. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Público (Setransp), só na região metropolitana a queda foi de quase 100 mil usuários por dia. “A pandemia fez com que o número de passageiros diminuísse em 30%, e este foi um dos principais motivos para as dificuldades econômicas enfrentadas pelo setor”, afirmou a presidente do Setransp, Raissa Cruz.
Se o número de usuários do transporte caiu, a população de Aracaju e região metropolitana cresceu. Segundo o censo de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Aracaju teve um aumento populacional de 5,53% e a região metropolitana de 11%, nos últimos 12 anos. Esse espaço de tempo é quase equivalente à idade média da frota de ônibus da capital, que é de cerca de nove anos. Mas, por que a cidade cresceu e o número de usuários do transporte caiu? A resposta pode estar na ineficiência das linhas em atender à população com qualidade.
O olhar atento e apressado é de quem sabe que se perder o próximo ônibus, a espera pelo seguinte pode ser grande. A reclamação pela demora entre um coletivo e outro é constante entre os usuários. Segundo Dilson Peixoto, especialista em mobilidade, “o tempo ideal de espera entre um ônibus e outro seria de 10 minutos, porém, a maior dificuldade que as empresas enfrentam é disponibilizar a quantidade de frota ideal para que isto de fato aconteça”.
Outro grave problema é a falta de segurança em relação às usuárias do transporte. De acordo com a Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal da Superintendência da Polícia Civil, em 2022, foram feitas 211 denúncias de importunação sexual nos ônibus da capital, número que pode ser ainda maior, já que muitas mulheres não denunciam. A operadora de telemarketing Márcia Santos relatou que enfrenta esse medo diariamente. “Tudo fica ainda mais difícil e perigoso à noite, quando preciso voltar tarde da faculdade”, disse. A questão do desrespeito e assédio contra a mulher não é nova e, com o desenvolvimento urbano acelerado, isso torna-se um desafio ainda maior não só para quem usa, mas também para quem opera as linhas de ônibus na Grande Aracaju.
Especialistas afirmam que melhorar a qualidade do transporte público é uma das soluções para um desenvolvimento urbano sustentável. Com mais gente usando o transporte coletivo, menos pessoas colocam seus carros na rua. Ainda, segundo Dilson Peixoto, estudioso em mobilidade urbana, o consórcio metropolitano é estratégico para fortalecer o transporte público. “Isso porque você cria um grupo de gestores empenhados em manter uma unidade gerencial nas operações, e ajuda a resolver a equação financeira, que é um dos principais problemas da categoria”, explicou. Já para Raissa Cruz, presidente do Setransp, “o que de fato resolve o problema do transporte são investimentos extra tarifários, para se dar substância a um setor que já vem em desequilíbrio”.
No dia 28 de maio deste ano, uma reunião do Consórcio Metropolitano da Grande Aracaju, composto pelas prefeituras da capital, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e o governo de Sergipe, definiu um subsídio para o transporte público de R$ 126 milhões, que serão pagos proporcionalmente por cada uma das prefeituras envolvidas no acordo. Segundo o consórcio, esse montante deve trazer melhorias como: instalação de ar-condicionado nos veículos, bem como a renovação da frota para cinco anos e meio de uso.
Os investimentos deveriam aumentar o valor da passagem para R$ 8,12, porém, com o subsídio proposto, o valor final para o usuário ficará em R$ 5. A nova tarifa, que entrará em vigor a partir de janeiro de 2025, vai pesar no bolso da população. “Já está tudo tão caro, com mais esse reajuste vai ficar difícil andar de ônibus”, lamentou Antônio Carlos, usuário.
Do A8/Lagarto