Ana Hickmann: Neurocientista explica comportamentos relutantes para denunciar violência doméstica
Muito se questiona sobre por que mulheres demoram a denunciar casos de agressão doméstica, apenas procurando justiça quando o caso já está muito sério. O assunto veio à tona nas mídias sociais após a apresentadora Ana Hickmann registrar um boletim de ocorrência, acusando o marido, Alexandre Côrrea, de agressão na tarde sábado (11). Internautas se questionaram se ela já havia sido agredida anteriormente, relembrando de notícias de supostos acidentes da vítima nos últimos meses.
A compreensão dos fatores neuropsicológicos por trás do relutante comportamento de mulheres vítimas de violência doméstica em denunciar revela uma teia complexa de influências. O pós phd em neurociência
Fabiano de Abreu Agrela destaca diversos elementos da neurociência que moldam essa dinâmica:
1. Trauma e resposta ao estresse:
A exposição contínua à violência pode afetar áreas do cérebro, como hipocampo, amígdala e córtex pré-frontal, comprometendo a regulação emocional e a tomada de decisões.
2. Apego e dependência emocional:
Teorias neuropsicológicas sugerem que o medo da perda e a dependência emocional ao agressor podem criar uma mistura complexa de emoções, dificultando a busca por ajuda.
3. Condicionamento e aprendizagem:
A exposição repetida à violência pode levar a um condicionamento, fazendo com que a vítima se acostume com o ciclo de abuso e veja isso como a norma em relacionamentos.
4. Baixa autoestima e cognição distorcida:
A violência doméstica pode resultar em diminuição da autoestima e em crenças distorcidas, impactando a capacidade de decisão, incluindo a denúncia.
5. Medo e coerção:
O medo de retaliações ou ameaças pelo agressor pode ser um grande obstáculo, influenciando a capacidade da vítima de buscar ajuda.
6. Isolamento social:
A vítima frequentemente é isolada de sua rede de apoio social, limitando sua capacidade de buscar ajuda externa.
Fabiano de Abreu enfatiza que oscilações emocionais intensas, do declínio ao fortalecimento, podem criar uma dependência emocional viciante, similar ao processo de dependência química. Ele destaca que os agressores muitas vezes oferecem momentos intensos de prazer para compensar seus erros, mantendo as vítimas presas nesse ciclo.
Entendimento profundo:
Segundo Agrela, a dependência emocional pode ser comparada ao processo de dependência química, onde a pessoa fica viciada no parceiro, ou seja, hiperligada, hipervigilante e hiperfocada, vivendo uma constante oscilação entre momentos de felicidade e de sofrimento. Resultando em uma espécie de “síndrome de abstinência” na ausência do agressor, “Que sabe leva-lá ao céu e mantê-la no inferno. Com a esperança de uma visita breve novamente ao céu”, explica o profissional.
A análise de Agrela destaca a importância da consciência para que as vítimas possam enxergar racionalmente a situação. Ele também explora a atuação da amígdala, uma região do cérebro central no processamento do medo, mas que também desempenha um papel em emoções positivas e aprendizado condicionado.
A abordagem multidisciplinar que considera os aspectos neuropsicológicos, sociais e culturais é fundamental para proporcionar suporte eficaz e intervenções significativas diante dessa delicada realidade.
Da 93Notícias